Negociação de trégua: Hamas se diz disponível; Israel não comparece

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Negociação de trégua: Hamas se diz disponível; Israel não comparece


Negociadores estão empenhados em concluir acordo antes do Ramadã

Porto Velho, RO - O grupo palestino Hamas afirmou nesta quarta-feira (6) que vai continuar a trabalhar para conseguir alcançar um cessar-fogo em Gaza, apesar da ausência dos negociadores israelenses na última rodada de conversações no Cairo, capital do Egito.

O projeto de solução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), apresentado pelos EUA, prevê um cessar-fogo de seis semanas e a libertação dos reféns.

"Estamos demonstrando a flexibilidade necessária para chegar a uma solução abrangente contra a agressão ao nosso povo", afirmou o Hamas em comunicado.

Os negociadores do Hamas, do Catar e do Egito - sem negociadores de Israel - estão no Cairo e tentam garantir um cessar-fogo de 40 dias na guerra entre Israel e o grupo islamita a tempo do mês do Ramadã, que começa no próximo domingo.

Frequentemente, a violência nos territórios palestinos ocupados aumenta durante o Ramadã, assim como a hostilidade em relação a Israel no mundo árabe e muçulmano, criando um forte incentivo para os líderes fecharem um acordo antes disso.

Segundo a Associated Press, fonte egípcia afirmou que a última rodada de negociações terminou na terça-feira e que o Hamas apresentou uma proposta que vai ser discutida com Israel nos próximos dias. A delegação do Hamas mantém-se no Cairo onde se vai reunir com os mediadores.

Bassem Naim, alto funcionário do Hamas, disse que o grupo palestino apresentou seu próprio projeto de acordo e que aguarda uma resposta de Israel, acrescentando: "Benjamin Netanyahu não quer chegar a um acordo e a bola agora está no campo dos americanos".

Naim acrescentou que era impossível chegar a um acordo sem um cessar-fogo, uma vez que os reféns estavam espalhados pela zona de guerra.

Na terça-feira (5), em Beirute, Osama Hamdan, do Hamas, reiterou as principais exigências do seu grupo: o fim da ofensiva militar israelense, a retirada das forças israelenses e o regresso às suas casas de todos os habitantes de Gaza, que foram forçados a fugir.

"A segurança e a proteção do nosso povo só serão alcançadas com um cessar-fogo permanente, o fim da agressão e a desocupação de cada centímetro da Faixa de Gaza", disse Hamdan aos jornalistas em Beirute.

Hamdan afirmou ainda que qualquer troca de prisioneiros só poderá ter lugar após um cessar-fogo permanente – em vez de uma pausa de algumas semanas – e uma retirada completa das forças israelenses da Faixa de Gaza. Israel, por sua vez, quer apenas uma pausa nos combates para que os reféns saiam de Gaza e que mais ajuda humanitária entre, insistindo que não terminará o conflito enquanto o Hamas não for completamente "eliminado".

EUA

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou ontem que estava nas mãos do Hamas aceitar ou não um acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza em troca da libertação de reféns israelenses.

"Neste momento, está nas mãos do Hamas. Os israelenses estão cooperando. Tem havido uma oferta racional", disse Biden aos jornalistas. "Se chegarmos a uma situação em que a guerra continue no Ramadão, será muito perigoso."

"Temos de fazer chegar mais ajuda a Gaza", disse Biden. Washington, o principal apoiador político e militar de Israel e patrocinador das negociações, também colocou o ônus diretamente sobre os governantes de Gaza.

Segundo a Reuters, os Estados Unidos revisaram, na terça-feira, a formulação de um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU para apoiar "um cessar-fogo imediato de cerca de seis semanas em Gaza, juntamente com a libertação de todos os reféns".

A terceira revisão do texto – proposto pela primeira vez pelos Estados Unidos há duas semanas – reflete as observações contundentes da vice-presidente Kamala Harris, apelando a Israel para fazer mais para aliviar a "catástrofe humanitária" em Gaza.

No acordo apresentado, o Hamas libertaria alguns reféns capturados por militantes palestinos no ataque de 7 de outubro a Israel, que desencadeou a guerra, enquanto aumentaria a ajuda a Gaza para tentar evitar a fome, uma vez que os hospitais tratam crianças gravemente subnutridas, e o Hamas forneceria uma lista de todos os reféns detidos em Gaza.

A libertação de doentes, feridos, idosos e mulheres reféns resultaria em um cessar-fogo imediato em Gaza de pelo menos seis semanas, salientaram o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e o primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, em uma reunião na terça-feira, informou a Casa Branca.

"Esta primeira fase de um cessar-fogo também permitiria uma onda de assistência humanitária ao povo de Gaza, e forneceria tempo e espaço para garantir acordos mais duradouros e calma sustentada", lê-se no comunicado da Casa Branca.

Os EUA também instaram Israel a fazer mais para aliviar a catástrofe humanitária no território palestinos, onde mais de 30 mil pessoas foram mortos por ataques de Israel, lançado após o 7 de outubro, que matou 1,2 mil pessoas.

Massacre israelense

Os peritos das Nações Unidas condenaram a violência desencadeada pelas forças de Israel, na semana passada, contra palestinos reunidos na cidade de Gaza para recolher ajuda humanitária que consideram um "massacre".

Em comunicado, um grupo de relatores especiais da ONU acusou Israel de "matar intencionalmente de fome o povo palestino em Gaza, desde 8 de outubro".

"Agora tem como alvo os civis que procuram ajuda humanitária e os comboios humanitários".

"Israel tem de encerrar essa campanha de fome e de ataque a civis", afirmaram os peritos da ONU, que alertaram para o fato de existirem cada vez mais provas de fome na Faixa de Gaza. Pelo menos 112 pessoas morreram e 760 ficaram feridas na quinta-feira, quando multidões desesperadas se reuniram para pegar ajuda humanitária.

Testemunhas em Gaza e alguns dos feridos disseram que as forças israelenses abriram fogo contra a multidão, provocando pânico. Israel afirmou que as pessoas morreram pisoteadas ou foram atropeladas por caminhões de ajuda humanitária, embora tenha admitido que suas tropas dispararam contra aquilo que chamou de uma "multidão".

"O ataque ocorreu depois de Israel ter negado a entrada de ajuda humanitária na Cidade de Gaza e no norte da Faixa de Gaza durante mais de um mês", afirmaram os peritos das Nações Unidas, que descreveram "um padrão de ataques de Israel contra civis palestinos que buscam ajuda".

Fonte: Cristina Sambado – Repórter da RTP

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